terça-feira, 5 de agosto de 2008

Blade Runner - O Caçador de Andróides

(Blade Runner, 1982)
Cartaz original do filme

Ficha técnica:

Gênero: Ficção Científica / Policial
Duração: 118 min
Origem: EUA
Estúdio: The Ladd Company
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Hampton Francher, David Webb Peoples
Produção: Michael Deeley
Elenco:

Harrison Ford: Deckard / Narrador
Rutger Hauer: Roy Batty
Sean Young: Rachael
Edward James Olmos: Gaff
M. Emmet Walsh: Capitão Bryant
Daryl Hannah: Pris
William Sanderson: J.F. Sebastian
Brion James: Leon
Joe Turkell: Tyrell
Joanna Cassidy: Zhora

Avaliação: (Clássico)


Introdução

Tinha ouvido muito falar sobre este filme. "Um Clássico da Ficção Científica", diziam.
Mas foi quando li um comentário de um crítico (não me lembro exatamente quem, o que tira toda a credibilidade deste comentário, mas ... deixa pra lá ...) , sobre o filme Matrix, foi que me interessei.
Explico: estava lendo a resenha, em que o crítico em questão elogiava muito Matrix (e eu concordei, logicamente, pois fé cega não se discute!).
Num determinado momento, escreveu: "(...)o roteiro de ficção científica mais original e inteligente desde Blade Runner(...)".
Pronto, a semente estava plantada...

E não é que, a primeira vista, me decepcionei!
Pois é, mas minha opinião iria mudar, e muito.
Vamos ao segundo ato da história...

Assisti primeiro a versão do diretor, que é bem mais intelectualizada que a original.
Fiquei sabendo depois que a versão original continha uma narração em Off, que foi retirada na do diretor.

Procurei muito a versão original. Só consegui mesmo comprando-a...
E não me arrependi!

Hoje considero a versão do diretor melhor que a original, mas foi necessário eu assistir a antiga para poder apreciar melhor o filme, pois, para burros como eu, tudo deve ser explicado nos mínimos detalhes.
Falando sério: de fato, a versão do diretor é bem mais complicada de entender.

As pessoas acostumadas aos filmes "MTV's" da vida, em ritmo de Vídeo Clipe, vão estranhar a lentidão de Blade Runner.

Sim, é um filme lento, mas um filme pra ser apreciado com calma, para se observar os detalhes!

Sinopse

No ano 2019, foi desenvolvido uma nova raça de "andróides"(1), conhecida como "Nexus 6". São tão fortes e inteligentes quanto os humanos (talvez até mais), além de idênticos fisicamente. Os "Replicantes", como são chamados os andróides do filme, foram proibidos na Terra. Somente são usados como escravos nas colônias espaciais. Até que um grupo de seis replicantes descem a Terra.




Detetive Deckard

O detetive Deckard é contratado para "aposentá-los" (leia-se: matá-los).
Mas, enquanto busca os replicantes que deve matar (e, ao mesmo tempo, tenta descobrir o motivo de suas descidas à Terra - motivo muito interessante, aliás), se apaixona por uma Replicante...
E aí nada mais fica claro entre o que é certo e o que é errado.
Quem é o mocinho? Quem é o vilão?
Não são perguntas muito fáceis de se responder, depois de se assistir o filme por inteiro...

Rachel



(1) Na verdade, os "andróides" do filme são seres que, apesar de criados artificialmente, são biológicos. Algo semelhante à clonagem.

Hora de puxar o saco!


O filme realmente é bem intelectualizado. Há vários "furos" no filme, que só se tornam mais claros depois de se assistir mais de uma vez (ou ler algo sobre na internet). Mas essa é uma das principais qualidades do filme. É um filme que faz pensar.

O roteiro é excelente, pra não dizer perfeito!
Além de fazer pensar, toca em vários assuntos. Há também uma trama paralela (o romance) que está muito bem encaixado e dirigido (um micro-filme à parte)!

O filme é cheio de estilo! Mistura "film noir" (filmes policiais "escuros e decadentes" da década de 1940), futuro distópico, figurino "retro-futurista" (repare na roupa e penteado estilo década de 1940 de Deckard, de Rachel e dos outros detetives), com uma fotografia e enquadramentos perfeitos, além da trilha sonora, composta pelo tecladista grego Vangelis, ser fantástica, memorável!

Aliás, falando em fotografia, a cidade de Los Angeles está tão imponente que participa quase como uma personagem!! Repare no dirigível que aparece em vários momentos, anunciando a "nova vida" que podemos ter nas colônias espaciais. Ou o Outdoor em que aparece uma japonesa vestida de quimono.


As interpretaçõs são ótimas: Harrison Ford está perfeito como o decadente detetive Deckard, e Sean Young combina perfeitamente como a andróide Rachel. Há também o misterioso Gaff, interpretado por Edward James Olmos que, apesar de aparecer pouco, deixa sua marca.

Mas quem rouba a cena é Rutger Hauer, interpretando o replicante Roy Batty!
Imagine um vilão entrando numa sala para ameaçar uma vítima ... recitando poesia??
Um vilão carismático e formidável!!

Roy Batty, o vilão carismático e formidável

O filme tem, também, ótimos diálogos. Frases como: "Não é ótimo ter uma coceira da qual não se consegue coçar?", ou "...essas memórias se perderão para sempre, como lágrimas na chuva...".

Além das qualidades já citadas, o roteiro é excelente. A princípio parece um filme normal sobre andróides (se é que existe "filme normal sobre andróides") . Porém, ao se aproximar do final, o roteiro toma um rumo diferente, principalmente em relação às atitudes de Roy.

Influência e influenciados

Inicialmente Blade Runner é "apenas" um ótimo filme de ficção científica, tendo usado de ótimas influências visuais e de roteiro, como o estilo visual e enredo de "filme policial sombrio" dos film noir, como também a influência visual do figurino e arquitetura da década de 1920, misturados com o visual futurista de 2019.

Além disso, o filme é inspirado num livro de Philip K. Dick, "Do Androids Dream With Electric Sheep?". Ser inspirado num livro de autoria de Dick significa uma história em que o protagonista provavelmente é ou foi um policial, ou algo parecido com isso, e o enredo passa por temas como memória, questionamento do sistema vigente, além de ter um teor conspiratório (coisas do nosso querido, louco e genial Mr. Dick).

Mas não foi só isso. Não!
O filme foi um divisor de águas.

Temas como robótica, inteligência artificial, engenharia genética, manipulação da memória, corporativismo, destruição ambiental, e até mesmo clonagem podem ser vistos neste filme.

Repare também em como a globalização foi abordada. O mundo foi dominado pelo Japão (apesar de que eu sempre achei que foi a China, mas, como não manjo japonês, não posso dizer com certeza). Temos também a famosa cena em que Gaff fala no "Cityspeak", um idioma de rua que mistura vários idiomas num só!

É um filme cheio de detalhes! Repare, também, nas perguntas feitas nos teste para descobrir se uma pessoa é ou não Replicante. Observe o brilho nos olhos dos Replicantes. Sem contar os origames feitos pelo Gaff (cada um em um momento oportuno, eles não estão lá à toa).

A película de Ridley Scott foi uma das precursoras do movimento Cyber Punk, que, no cinema, iria culminar no filme Matrix. Observe, por exemplo, no visual dos vilões do filme.

Além disso, toda a história se passa no submundo de Los Angeles, o que é intensificado pelo fato de ficarmos sabendo que, em determinado momento, somente os melhores vão para as colônias espaciais. Ou seja, na Terra ficaram os renegados.

Não é um filme de respostas fáceis. Nos faz questionar e pensar, com perguntas como: como seria se eu fosse um replicante? Como seria ter minha vida reduzida a duração de 4 anos? (isso será explicado no filme) Será que eu levaria minha vida como normalmente?

Aliás, podemos ir mais longe! Em determinado momento, o enredo nos leva a pensar que poderíamos ser um replicante e nem saber! (quando assistir ao filme, você entenderá).


E, justamente por ser um filme visionário, fracassou na época de seu lançamento...
Segundo as palavras do próprio diretor: "estar à frente de seu tempo é o mesmo que estar atrasado, o público não o aceitará da mesma forma".

Mas, como sempre, o melhor crítico de todos é o próprio tempo...